Ouvir, apenas ouvir

I Samuel 3.10 “Então, veio o Senhor, e ali esteve, e chamou como das outras vezes: Samuel, Samuel! Este respondeu: Fala, porque o teu servo ouve”.

Ainda não é outono. Mas o pé de amora está carregadinho de frutas maduras. Os passarinhos vêm comê-las e fazem um barulho ensurdecedor. De manhã e a tarde já faz frio e durante o dia muito calor. Lembro-me das noites frias quando era garota em que sentávamos a volta do fogão à lenha para ouvir as estórias que nossa mãe contava. Eram muitas vezes estórias assustadoras, mas que nos transportavam para um outro mundo cheio de fantasmas, lobisomens e sacis. Ouvíamos atentos Ouvir é uma arte. Ouvir e entender, então nem se fala.

No texto acima Deus chama por Samuel. Samuel, Samuel! Samuel ouvia o Senhor, mas não o entendia. É preciso ouvir e entender. O Senhor queria a atenção de Samuel. O Senhor queria falar com Samuel. O Senhor tinha um recado para Samuel.

O Senhor também quer falar conosco no nosso dia a dia. Mas estamos tão ocupados!

Estamos tão atarefados que não ouvimos a sua voz. Da mesma maneira, nós também não ouvimos ninguém. Quando foi mesmo a última vez que nos sentamos para ouvir nossos filhos, nossos maridos? Parece que faz um século! O mundo nos atordoa. O barulho do trânsito nos ensurdece. O preço nos supermercados nos aflige. Buscamos. Procuramos. E não achamos nada. Precisamos correr. A vida exige. O mundo exige.

Quando foi mesmo o último dia em que nos reunimos ao redor da mesa e que juntos agradecemos a Deus por tanta fartura? Samuel, Samuel! Você demorou em ouvir Deus. E nós? Como tem sido o nosso dia? Quando foi que paramos para ouvir o dono da mercearia? Faz anos que ele veio e montou aquele negócio na esquina. Já está velhinho. Seus cabelos brancos como a neve estão ralos. As rugas teimam em aparecer na sua face. Quanta necessidade, ele tem de falar e ninguém para ouvir!

Jesus Cristo, no auge do seu martírio, ali na cruz, vertendo sangue, encontrou tempo para ouvir o ladrão: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino” (Lucas 23.42). Mesmo com tamanha dor, Ele volta o seu rosto banhado de sangue para aquele que havia vivido na concupiscência da carne dizendo: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lucas 23.43).

Jesus poderia tê-lo ignorado. Poderia ter feito de conta que não o ouvia. Mas não, Ele fez questão de ouvir. Ele tinha do seu lado dois vizinhos picaretas, mentirosos, assassinos. Mesmo assim os ouviu. É preciso seguir as pegadas de Jesus. Agir como Ele agiu. Na caminhada da vida não há botão de retroceder no tempo. Não podemos recomeçar do zero. Não podemos voltar a ser criança. Façamos tudo de tal forma que não nos arrependamos mais tarde. Sejamos também ouvintes! Não mais das estórias infantis, mas sim daquele que deu sua vida por nós!

Ao Deus único seja dada glória para sempre, por meio de Jesus Cristo! Amém!

por Antônia Vieira de Lima Oliveira